Sem mim não há Borboleta, sou a Lagarta.

UM ESPAÇO PARA DEIXAR-SE IR, SEM VOLTAR. A TUA BAGAGEM É O TEU CORAÇÃO.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ciúmes solitários na madrugada

Ontem, dirigindo pela madrugada, senti ciúmes. Muito ciúmes. A medida que meu carro acelerava, meu coração vacilava. Quero tudo para mim! Sim, as ruas, os postes, com seus cachorros, calçadas... Estaria desafiando Deus? Seria tudo Dele? Não me senti mal... ao contrário. Senti ciúmes de todos os casais que poderiam estar se amando entre aquelas janelas... Ciúmes das histórias que eu jamais iria ouvir ou conhecer, ciúmes das ruas que não poderei andar e também das que trilharei, não sem volta, um dia. Ciúmes do Monumento iluminando a cidade, ciúmes dos pensamentos que eu não podia ouvir ao meu redor. Com uma fome de abraçar tudo aquilo, senti-me limitada por estes braços e corpo nem frágil nem forte, meu apenas. Senti-me atrevida por tais pensamentos e, ao mesmo tempo, infantil. Senti-me no cio como se tivera quatro patas e senti-me na Igreja de meu interior, ao lado de Jesus, de quem também senti ciúmes na Cruz (teria ele morrido por MIM também?). Os goles de cachaça que jamais tomei, as risadas ao longe se misturando com as risadas do passado... do que seriam? As nuvens no céu, por que se aproximavam (falavam comigo as nuvens ou ignoravam minha vontade de continuar a ver estrelas?)? Os andares, as luzes, a vida acontecendo, um bebê nascendo ali, tão perto e eu sem poder ver nada, nem saber seu nome. Parecia ouvir apenas o estouro da pipoca no microondas, vendo Deus sentado lá do alto, nos assistindo de camarote... e Senti ciúmes por isso. Mas então me lembrei do roteiro, da protagonista, ops, eu, pelo menos enquanto pensar meus pensamentos, e dos offs. A vida como um filme sem edições e nem sempre maquiada. A vida e tudo o que se contém nela, pura e cristalina até na sua dor e devaneios. Eu, com ciúmes dos olhares perdidos naquele instante, mas ciente de estar sendo vista naquele exato momento.

artista Rose Greavette