Sem mim não há Borboleta, sou a Lagarta.

UM ESPAÇO PARA DEIXAR-SE IR, SEM VOLTAR. A TUA BAGAGEM É O TEU CORAÇÃO.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

INVERDADES

Inverdades

Eu tive um sonho. Era bem frio como esta nuvem que cai lá fora chovendo doce. Eu não era bonita nem rica e andava de gorro, para nào deixar que os pingos derretessem meus pensamentos de açúcar. Eu andava e corria na direção oposta, mas aos círculos, o mundo girando não me deixava tonta. Quando te vi, menino, moleque, indeciso, perdido. Parei e perguntei se você NÃO queria tomar algo, um... café? "Quero", você disse. Saí na direção oposta. Virei o rosto e fui. Você me seguiu até o final da reta curva. "Ei, sua louca, e nosso café? Eu disse algo errado?" Respondi: "Não, não disse. Eu queria saber se você NÃO queria tomar e não se você queria. O seu não me interessa mais." "Então fale alguma coisa muito RUIM de você para que eu mude de idéia e queira Não tomar nada com você.", me surpreendeu. Falei que eu gostava muito de matar as pessoas. Gostava muito. E especialmente homens perdidos, indecisos, como você parados no meio do meu caminho. Então de fato, como previsível, você virou as costas e saiu.

Saí atrás, queria o seu não. Ei, OI, jogada de cabelo, Vamos, risos, chicletes, olhares, fiz tudo. Até finalmente apenas caminhar lado a lado com você, que, mais uma vez, indeciso (e talvez, instigado) não conseguiu se desvencilhar. "Então... seu nome...é...?" "SSSShhhh!" pedi silêncio. "Nome? para que? Eu tô há dias tentando me libertar deste...". Você parou, pegou minha mão e seguiu a linha da vida com a ponta do pelo grosso da sua  barba. "Bom." "É". O silêncio crescia e a vontade de rir. Mas no meio de um lugar quase cinza, sentados, o silêncio caía bem, embora desconfortáveis em parecer imbecis. Cortei a pausa, arriscando: "Eu quero conhecer todas as mentiras sobre alguém. Quero que esse alguém me conte tudo o que NÃO é. E, quero que me oculte tudo o que for, inclusive seu nome verdadeiro.Que me diga só mentiras, só coisas absurdas, só o que não faz parte do seu mundo, aquilo que ele não conhece, nunca viveu, não lhe é real. Eu quero desconhecer alguém." Eu sabia que riscar de vermelho o céu é insuportável quando nossa retina já se acostumou com o azul. Mas você zombou da minha idéia criativa. "Do que você foge?". Senti o ímpeto de chorar... "Quer ser esse alguém? Você já tá aqui, me olhando... já nos encontramos, demorou tanto a isso acontecer... quer me desencontrar pra sempre agora?, perguntei". "Por que você foge?", você insistiu. Comecei a vasculhar a minha bolsa. Muito depressa e a bolsa parecia conter um mundo. Mostrei metade, apenas a foto da minha identidade. "Eu quero ser de uma forma que nunca fui. Eu quero a liberdade do passado nem o futuro existirem, eu quero ISSO, AGORA, por isso nada que já faça parte, nada disso importa. Tampouco seu nome, eu quero seu olho, seu olho inventando, seu olho quando mente vira pro lado, ele vai em busca, ele anda...." Você se levantou e disse "Louca!".

Depois, Perdi a conta de quantos dias passei por ali e o vi sentado no mesmo lugar. Mas você virava as costas e saía. Você sempre saía e me deixava, eu cheguei a pensar que um dia riríamos da repetiçào. Até que um dia isso de fato aconteceu. "E você, foge também?". "Comecei a fugir quando te conheci." "Que legal, agora somos dois fugindo de mim, só que você da mim que ainda não é, verdade?" Silêncio. "Não é? Ah, sim... as mentiras... e não a verdade." Você então me pegou pela mão e me levou aonde morava. (você nunca morou lá). Depois me levou no seu restaurante favorito. (vi seu esforço para comer a comida) e antes de ir embora, depois de nos olharmos a noite inteira sem dizer mais que duas linhas de palavras, Você se aproximou para me beijar e mesmo louca de tesão eu te bati no rosto. Eu cuspi na sua direção. Eu disse NUNCA MAIS ME PROCURE.

Mas felizmente você entendeu e procurou, nos procuramos no mesmo lugar cinza que ficarava verde quando nos encontrávamos, eu o apresentei aos amigos vizinhos como meu irmào da Índia, rico e cheio de gorjetas que você nào tinha e o levei para uma aula de ballet, que eu nào adorava, eu lambi o gosto estranho do seu pescoço depois de comer um alho inteiro sozinha e comi carne de porco que eu detesto com a boca aberta na sua frente, eu queria nào ser sensual, eu queria te prender por TUDO AQUILO que nunca prende ninguém... Mesmo assim, e assim mesmo, num belo dia você estragou tudo. Disse que me amava, que amava aquela que eu nào era, nunca fui. Que queria e precisava sentir o gosto de mim. Eu queria, queria muito, mas nào podia. Eu não podia me enganar na sua verdade... pois a sua mentira me interessava mais. Peguei o revólver e mirei você. Você se assustou e disse que pensava que eu estivesse brincando, que queria que a gente parasse de mentir, e que não importava quem eu era nem o que havia feito, mas que você sabia me amar... te amarrei com cordas. Te fiz chorar e chorei mais ainda por dentro. Eu também te amava. Mas não podia deixar você entrar, para não deixar que fôssemos passado. Eu me amarrei do outro lado da cama perto de você. E ficamos fazendo amor pelo olhar. Até você dormir.

No outro dia, deixei uma tesoura ao alcance das suas mãos, perto, bem perto das cordas. Deixei o revólver de mentira perto das suas mãos também caso pensasse em se matar com minha ausência para que ficasse frustrado em não conseguir. Andei na direção oposta. Corri, corri, corri muito... E NUNCA MAIS VOLTEI ao banco cinza. E nunca mais as minhas inverdades, e as suas existiram. E pudemos ser novamente normais, até um dia nos esbarrarmos e agirmos normalmente e preferirmos o avesso do outro. Até um dia a sua inverdade ser mais verdadeira do que qualquer realidade mentirosa que me fizesse me perder de você.